Pois é Elvira, parece que foi a primeira em conseguir descobrir o que unia todas as imagens que decidi "colar" no blogue em jeito de adivinha.
Deixo-vos agora o poema, que me apetecia que conhecessem, para os que ainda tiverem dúvidas. E, já agora, ameaço com voltar a fazer "malandrices" deste tipo.
Pedra Filosofal
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
In Movimento Perpétuo, 1956
4 comentários:
Obrigada Susana, não conhecia ao autor nem a sua obra.
Impossível adivinhar para mim.
Impossível não era, Eugenia, não sei se a Elvira conhecia o António Gedeão ou não, mas basta tratar bem o google que ele dá-nos quase todas as respostas :)
Agora diga-me que o poema não é profundamente inspirador? Eu adoro!
Eu não conhecia, pesquise na net. Fiquei suurprendida pela obra tão extensa.como já conheçco, lerei alguma cosa dele.
Ainda bem que vos está a servir para conhecer autores novos, este é uma das minhas paixões, confesso, mas teremos oportunidade de ver outros e de continuar, este mês, a conhecer mais do António Gedeão.
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