terça-feira, 11 de abril de 2017

"A MELODIA MÁGICA". Diego.

Para Manuel, Nani, Mercedes, Patricia e Guadalupe.
CONTOS  DE  MEIA-TIGELA, PARA CRIANÇAS E NÃO CRIANÇAS.

“A MELODIA MÁGICA”.

Era uma vez, uma rapariga chamada Isabel, afoita, cuja paixão era tocar violino. Era uma vez, um rapaz chamado Nuno, primo da Isabel e colega de turma, intrépido e corajoso. Tinham nove anos.

A Isabel era órfã e morava com os seus tios e o seu primo numa quinta perto de Aboboreira, exígua vila agrícola e pecuária.

Ela “queimava as pestanas” a estudar, ao passo que o primo “fazia-se mota carrasco” neste tema. Teria sido por isso que os pais o afastaram da escola para trabalhar nas tarefas da quinta? Visto que o trabalho tinha resultado esgotante, retomou os estudos a pensar: “mal por mal, antes Pombal”.

O Lourenço, tio da Isabel, trabalhava, sempre, de forma muito organizada e, em consequência, a quinta era muito rentável. E a tia Margarida era, não só uma eficiente cozinheira, mas também uma infalível dona de casa.

O Nuno e a Isabel iam de autocarro à escola primária, em Aboboreira, almoçavam lá e retornavam para casa por volta das cinco, uma vez que tinham concluido as aulas de música da rapariga e o treino de futebol, onde ele era “aquela máquina” como guarda-redes.

Já na quinta, brincavam, faziam as tarefas escolares e ajudavam nas domésticas, para se deitarem antes das dez e meia.

A família tinha amizade com os vizinhos da quinta mais próxima, propriedade dos pais da Matilde, colega deles que tinha devoção pela sua avó Xana.

O sossego e o silêncio reinavam durante as noites e todos dormiam com a sensação agradável de “terem levado a carta a Garcia”.

No aniversário da Matilde os miúdos da sua aula e a professora Açucena tinham sido convidados para irem à quinta vizinha da Isabel e o Nuno.

Era um dia de primavera, estava sol e temperatura apracível. Quer a casa, quer o jardim estavam enfeitados com balões, flores e enfeites diversos, e as mesas todas estavam repletas de guloseimas e petiscos, além de que no bolo de aniversário havia nove velas aguardando a resplandecerem acesas.

A tia Margarida tinha colaborado a fazer os petiscos com a mãe da Matilde e a avó Xana, e o tio Lourenço a adornar a quinta com o pai da menina. Assim, os adultos essa tarde na quinta eram os cinco recentemente nomeados e a professora Açucena, mulher medricas de trinta e seis anos, que tinha desenvolvido, em pequena, uma incurável alergia pelo reino animal.

No decorrer do aniversário, tudo era alegria, felicidade e satisfação. A amizade da turma resplandecia junto da admiração, apego e ternura que os alunos sentiam pela sua professora.

Até foi engraçado que uma cabra pequena da quinta que tinha aparecido, de rompante, 
na festa apanhasse de surpresa a Açucena, que pulou a berrar nos braços do tio Lourenço. A cabra lambeu o prato dela e comeu o resto da sandes de atum, ovo e maionesse, enquanto o tio Lourenço ficava corado de vergonha com a ruiva e gira professora ao colo.

Depois de se deliciarem com o bolo e com a peça de música que a Isabel ofereceu à sua homenageada amiga, a tocar violino, os miúdos brincaram às escondidas na floresta próxima da quinta.

Em virtude do jogo, todos os meninos se tinham embrenhado nela à procura de engenhosos esconderijos. A Isabel, o Nuno e a Matilde ocultaram-se no esconderijo secredo da Matilde, uma antiga cabana em ruínas.
Imediatamente depois de terem ouvido a voz do Jorge e da Alicia a avisar de que iniciavam a busca, perceberam um cheiro nauseabundo e uns passos que faziam retumbar o chão num ruído terrível e muito desagradável, como se estivesse a passar um cilindro das estradas. Os colegas começaram a berrar, como se tivessem visto algo aterrador.
Seguidamente, se fez o silênçio. Nem se ouvia o voo das aves, mas o som dos galhos mexidos levemente com o ligeiro sopro do vento.
O Nuno e a Isabel sairam da cabana:
-       Joaaaanaaaa, Juuuuliaaaaa, Aliiiiiiciaaaaa, Jorgeeeeee………
Mas ninguém respondeu.
Agora, a Matilde saiu fora, com muito temor e sem encontrar senso-comum ao que tinha acontecido.
Deram uma pequena olhadela em redor à procura dos colegas, sem se afastarem demais, mas retornaram ao mesmo lugar sem terem visto nem ouvido nada. Deram uma segunda olhadela, mas “tudo como dantes, quartel-general em Abrantes”.
Súbitamente surgiu o Jorge a correr despavorido, com as suas ropas desfarrapadas. “Até ia a nove!” Continham-no para o sossegarem. Segundo ele, um bicho-papão enorme e peludo, com uma voz esganiçada tinha capturado os colegas, introduzindo-os lá dentro de um saco. E ele próprio tinha conseguido escapar gatinhando, num triz, para se ocultar entre os arbustos  e os troncos das árvores.
A Isabel descubriu umas pegadas gigantescas e, antes de que fosse mais tarde, combinaram segui-las todos juntos. Ascenderam um trilho íngreme e atravessaram um amplo terreno espalmado, até chegarem a uma caverna onde identificaram o cheiro desagradável que antes tinham experimentado. O esvoaçar de um bando de morcegos apavorou-os com a sua saída.
O cheiro era agora insuportável e a terra tremia incessantemente. Os miúdos esconderam-se rapidamente atrás de um matagal. Ficaram muito quietos e sem fazer o menor ruído. O bicho-papão saiu com o som esganiçado da sua voz a exprimir qualquer coisa ininteligível.
Era todo preto, veloso, feio, hediondo, horripilante, abjeto e colérico.
-      Que nojo! Logo que o bicho-papão se afastar, vou entrar na caverna, tugiu o Nuno.
Com o intuito de salvar os colegas, e dado que o perigo já tinha passado, a Isabel e o Nuno ultrapassaram a entrada da caverna, enquanto que o Jorge e a Matilde ficaram à espreita lá fora.
Tinham decorrido vinte minutos e os vigilantes começaram a impacientar-se. Surgiu outra vez o abalo de terra e o mau cheiro. Chamaram aos berros o Nuno e a Isabel, mas não tiveram resposta. Apressadamente tiveram de se esconder no amigável matagal.
O bicho-papão trouxe, nesta altura, uma pessoa dentro do saco a pedir auxilio. Reconheceram a voz e deram pelos cabelos ruivos que sobressaíam do saco. Teria, o bicho-papão, apressado a Açucena?
Começava a escurecer. A Matilde receava descambar. Tinha-lhe dado um palpite horroroso. O Jorge era agora o mais destemido e arrojado a pensar em atravessarem o bosque e regressarem à quinta para procurarem ajuda, assim que encontrarem o caminho.
Quando tinham atravessado o terreno espalmado e, no  preciso instante em que se dispunham descer o trilho, ouviram os seus nomes. A voz era muito familiar. Significava isto que o Nuno e a Isabel tinham conseguido resgatar os colegas das garras do bicho-papão e, uma vez que se aperceberam do seu regresso, tinham fugido por outra saída que acharam na caverna.
O Jorge e a Matilde disseram-lhes que a professora Açucena tinha, inexplicavelmente, sido sequestrada. Daí que o Nuno aconselhasse:
-      E se retornassem todos à quinta? É fulcral procurarem ajuda. Eu não posso permitir que o malcheiroso monstro faça qualquer malfeitoria a nossa professora baril. Por outras palabras, resgatá-la-ei sozinho!
-      “Bem prega frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz”, anuiu o Jorge.
A Isabel, a Matilde, o Jorge e as demais crianças foram pelo caminho de regresso à quinta, enquanto que o Nuno, enraivecido, rumou à caverna.
Contanto o malvado bicho-papão constatou que os catraios se tinham escapulido, abespinhou-se imenso e orquestrou uma esparrela para quem ousasse aproximar-se. O muito parvo do Nuno caiu nela e ficou pendurado do galho de um salgueiro, dentro de uma rede.
Finalmente, na altura em que o bicho-papão apareceu perante ele, aconteceu algo inesperado pelo malvado e perverso ser: a valente Isabel, com um deslumbrante vestido vermelho a condizer com os sapatos, surgiu, como se saísse de um conto de fadas, segurando o seu violino no ombro. Então, começou a tocar uma melodía fantasiosa que deixou atordoado o bicho-papão, que tendo caido esfalfado no chão tornou-se, misteriosamente, num louva-a-deus minúsculo. Terá, já, sido engolido por algum melro ou, se calhar, por uma pega?
A magnífica e brilhante ideia tinha sido da avó Xana. Teria ela experimentado, em pequena, uma aventura semelhante?
O Jorge, que tinha acompanhado a Isabel até o lugar, nesta proeza, soltou o pacóvio. E, concluindo, ambos chisparam em busca da professora ruiva.
E viveram felices para sempre!



5 comentários:

Nani disse...

Diego, gostei imenso do teu conto!. A meu ver, está muito bem escrito, é muito imaginativo e tem um bom vocabulário para nós aprendermo-lo.:)
Oxalá que escrevas muitos mais contos para nós deliciarmos com eles!
Muito obrigada por partilhares connosco e também pela tua dedicatória a todos nós.

Anónimo disse...

Estimado Diego: obrigadíssimo pelo conto. Exímio trabalho. Os meus mais sinceros parabéns. Boas férias.

Diego disse...

Muito obrigado, Nani e Manuel !!!!

Unknown disse...

Parabéns, Diego!

Foi um imenso prazer lêr o teu conto, do qual desfrutei como uma menina com sapatos novos...além do muito que me jacto por ter-lo dedicado aos colegas, este grupo de fieis seguidores, do qual faço parte.

Desejo-te muitos momentos de inspiração, como este que tiveste para escrever tão lindo conto, e continues nesta maravilhosa e dificil tarefa de criar histórias para delicia do resto dos mortais.

Obrigada, caro colega. Boa Pascoa!

Diego disse...

Muito agradecido pelas tuas palavras, Lupe !!!!

Muito boa Páscoa !!!!